29/07/2011 21:21

Combate ao racismo

o IBGE lançou uma publicação intitulada Características étnico-raciais da população: um estudo das categorias de classificação de cor ou raça, com os resultados do levantamento realizado em 2008. Segundo os pesquisadores do IBGE o objetivo da sondagem era “compreender melhor o atual sistema de classificação de cor ou raça nas pesquisas domiciliares realizadas pela instituição e contribuir para o seu aprimoramento”.

Na introdução desta publicação há um excelente resumo da história das categorias censitárias desde 1872. Interessante notar que, desde então, os levantamentos censitários respeitam, em relação às categorias de cor, o princípio de uma classificação tríade: branco, preto, pardo ou mestiço, ou outra categoria intermediária, ao mesmo tempo em que incluem outras duas categorias para abarcar indígenas e migrantes orientais (amarelos).  Aliás,  o quesito cor/raça nos levantamentos censitários vem sendo debatido há anos: em 1976 e em 1998 o IBGE realizou estudos que exploraram as categorias utilizadas pela população para se autodefinirem quanto à cor.

O que está em jogo neste momento para que o IBGE realize mais uma pesquisa exploratória sobre este tema? Há uma demanda já antiga de movimentos sociais e de alguns acadêmicos que desejam modificar as categorias do censo e transformar a tríade branco, preto e pardo, em uma classificação binária: negro e branco.

No entanto, é preciso dizer que investigar o sistema classificatório dos brasileiros quanto ao quesito cor/raça nos levantamentos censitários não significa fazer uma pesquisa sobre as identidades dos brasileiros. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Ao responder ao recenseador sabe-se exatamente o que ele quer. Tanto é assim que 96% dos entrevistados na recente amostra do IBGE disseram saber classificar-se segundo a cor/raça e 65% utilizaram as mesmas categorias do censo para se autoclassificarem quando lhes foi solicitado que declarassem sua cor/raça de forma livre. Mesmo assim, 21,7% dos entrevistados se classificaram como morenos, morenos-claros, morenos-escuros e 7,8% como negros, categorias não utilizadas  no censo. Mediante tais resultados pode-se deduzir que se de um lado as atuais políticas identitárias têm feito com que mais pessoas se definam como negras, de outro, fica evidente que quase 22% das pessoas preferem estar no meio: morenas, morenas-claras e morenas-escuras. Uma autoclassificação que aproxima os extremos. Nem branco, nem preto ou tanto branco, quanto preto.

Censos e pesquisas estatísticas são importantíssimos para o conhecimento das realidades vividas pelas pessoas no mundo. No entanto, há muita discussão em torno da questão ética dos censos ou estatísticas étnicas. Uma visada comparativa talvez melhore o debate que travamos aqui. Os europeus, especialmente os franceses, têm sido cautelosos neste cenário porque ainda lidam com os traumas produzidos pela Segunda Grande Guerra e pelo nazismo. “Raça” é uma palavra banida, e as políticas voltadas para grupos étnicos defendidas pelo Governo Sarkozy têm sido duramente criticadas por seus opositores.

O Brasil tem usado o quesito cor/raça há mais de um século, como dizem os pesquisadores do IBGE, mas até o início do século XXI tais indicadores não eram utilizados na produção de políticas públicas e menos ainda para efeito de distribuição de direitos. A história está cheia de exemplos danosos a este respeito e não custa relembrá-los. As carteiras étnicas de Ruanda são um exemplo pedagógico. Mas isso é assunto para outro dia.

 

 

 

 

 

Fonte:g1.com

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